História Da Ourivesaria
Em 1836, existiam 11 ourives na vila vareira. Em 1911, conforme relata o almanaque de Ovar desse ano, a povoação possuía lojas de ourivesaria, como “a do Carvalho, mais conhecida pela Amália de Souza, situada no Picôto, a de José Plácido Ramos, na rua de S. Tomé, a de Francisco Maria de Oliveira Ramos, na mesma rua, a de José Maria Gomes Pinto e a de Manuel de Oliveira Ramos, na rua das Pontes”.
Nestas ourivesarias eram, principalmente, comerciáveis: os grandes “cebolões” das horas, presos a grossos cordões de prata, as sóbrias caixas de prata de rapé, as elegantes cigarreiras, as alianças em ouro dos nubentes, os pequenos e delgados fios em ouro, destinados aos recém-nascidos e aos neófitos da comunhão solene, os avantajados e custosos cordões de ouro que os pais da moçoila casadeira mercadejavam, os vistosos botões de punho em ouro ou prata, consoante as posses de dinheirame, os brincos de formato e dimensão variável, em ouro a ostentar riqueza, as pulseiras finas ou grossas, também em ouro, os castiçais em prata para uso das solenidades em família ou na igreja.
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Dos cinco estabelecimentos de ourivesaria em 1911, ocupa lugar de destaque a afamada “Ourivesaria Carvalho”, localizada no chamado Largo do Chafariz, não só pela variedade dos artigos à venda como à grande seriedade imposta nos vários negócios, passando a firma a ser conhecida por “Ourivesaria d’Amália de Souza”.
O prestígio deste estabelecimento galgou as fronteiras ovarenses, pois os seus proprietários calcorrearam feiras e povoações próximas ou afastadas de Ovar, como as de Santo Amaro, em Estarreja, Alumieira, Arrifana, Vale de Cambra, Pombal, Soure ou Tomar.
A fama da “Ourivesaria Carvalho” espalhou-se por cidades importantes do país, como Porto, Póvoa do Varzim, Lisboa e muitas outras. Na capital, o conhecimento e respeito pela ourivesaria deve-se, em grande parte, aos inúmeros fragateiros que, nas férias de verão, de visita às raízes familiares de Ovar, se orgulhavam de levar no colete um alentado cordão de prata amarrado a relógio e ostentar um grosso anel de ouro no dedo anelar, a marcar a importância de fragateiro bem lançado na vida ulissiponense. Mas, a importância da ourivesaria não se circunscreve à terra portuguesa, pois galgou fronteiras até aos EUA, Canadá, Brasil, Venezuela e outros países longínquos.
Esta ourivesaria nasceu e cresceu inteiramente em Ovar, e os seus primeiros pais foram o negociante Emidgio de Souza Campos e a sua irmã, D. Maria Maximina de Souza Campos, no “prédio de casas altas” no Largo dos Chafariz, nº 13 e 14.
Em 1895, a sua sobrinha D. Amália de Sousa Luzes (consorciada com o negociante Manuel Dias de Carvalho), herdou o “prédio de casas altas”, compreendendo a ourivesaria do tio no Largo do Chafariz.
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Nasceu, assim, a chamada “Ourivesaria Carvalho” que, em 1916, com o falecimento de Manuel Dias de Carvalho, torna D. Amália a única proprietária, associando ao próspero negócio os dois filhos mais velhos, Afonso e João, passando daí em diante o estabelecimento a ser chamado de “Viúva Carvalho & Filhos”.
Sob esta firma, passaram-se algumas décadas, até que, em 1956 a 26 de Agosto, faleceu a viúva D. Amália de Souza, passando a propriedade do estabelecimento de ourivesaria para o primogénito Afonso, que, daí em diante, vai consolidar e desenvolver ainda mais a reputação da ourivesaria.
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Afonso Dias de Carvalho nasceu em casa dos pais, no Largo do Chafariz, a 2 de Agosto de 1895, consorciando-se com Dª Rosa Lopes Rebelo a 11 de Março de 1925.
Este casal teve dois filhos, Amália e Américo Rebelo de Carvalho, que o pai não deixou de associar ao florescente negócio, passando a nova entidade comercial a adoptar a firma actual “Afonso Dias de Carvalho & Filhos, Lda”.
Com um acentuado pendor comercial e sempre com grande inteireza nas diferentes transacções, a nova sociedade composta por Afonso Dias de Carvalho, D. Amália Rebelo de Carvalho e Américo Rebelo de Carvalho, continuou a expandir-se por todo o distrito aveirense.
A “Ourivesaria Carvalho” – como continua a ser conhecida – chegou a dispor de uma pequena oficina para arranjos de relojoaria, execução e consertos de objectos artísticos em prata ou ouro. Esta oficina, anexa ao estabelecimento principal, agrupava hábeis artesãos de relojoaria e joalharia que exerciam com todo o mérito profissional as artes de relojoaria e ourivesaria em diferentes localidades do país e em Ovar, conseguindo expandir as suas actividades com relativo sucesso graças, em parte, à “escola” granjeada na ourivesaria-mãe.
Em 1956, a “União de Grémios dos Comerciantes do Porto”, ao comemorar o “Cinquentenário de Comerciante”, viu por bem distinguir Afonso Dias de Carvalho com a medalha de prata daquela instituição, prestando o justo respeito a uma figura que soube honrar o norte do país ao longo de meio século com o seu labor. Nesse mesmo ano, os filhos e empregados da Ourivesaria também prestaram uma singela festa de homenagem ao Pai e ao “patrão-amigo”, um gesto simples que não deixou de comover o homenageado.
Afonso Dias Carvalho faleceu a 23 de Setembro de 1971, tendo a sua quota sido igualmente repartida pelos seus dois filhos, que procuraram continuar a honrar sempre a memória do pai e o nome da firma Afonso Dias de Carvalho & Filhos, Lda.
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O estabelecimento continuou a ser orientado superiormente pelos seus dois sócios, os irmãos Amália e Américo Carvalho, ajudados pelo exemplar empregado António Oliveira Duarte e por D. Ana Paula, filha do proprietário Américo, e pelo seu irmão Afonso.
Hoje, e após o falecimento dos irmãos Amália e Américo, a Ourivesaria Carvalho tem ao leme dos seus destinos a quinta geração, os irmãos Maria Cristina, Ana Paula e Afonso Carvalho.